sábado, julho 03, 2010

Ar




Ar que me envolves
Quantos já envolveste?!
Quantos rebeldes cabelos
Já revolveste?

Quanto de ti vento
É bafo de outra gente,
Oxigénio impuro
Respirado, ofegado,
Poluição inconsequente?!

Ar remexido que esvoaças
As folhas mortas,
As árvores vivas,
Os cabelos estilhaças,
Bates com as portas
Em zangas festivas.

Fôlego folgado
De suor empestado
Vens até mim sem querer,
Respiro-te forçado
E te expirando enojado
Foste meu e de outros
Até te perder.

Faz-se o mar teu escravo
Envolvendo bravio
As ondas na areia
E revoltado rebenta
O rochedo esguio.

E a gente usa,
Abusa dessa força fatal
Empurrando o navio,
Desencaminhando o rio,
Numa poluição infernal.

Inspiro com força
Este bafio quente
Temendo o ar me faltar,
Sem escolha respiro indisposto
O fôlego desta gente
Que insiste e respira sem parar.

quinta-feira, maio 14, 2009

Morte maré


Que morrer neste mar
Seja o meu infindável destino
E as ondas a rebentar
Me mostrem o caminho
Até ao fim sozinho.

Que não haja gaivotas, nem pedras,
Nem peixes neste mar!
Quero a largura do oceano
E apenas água para me salgar
E me livrar deste mundo profano.

Não quero o tempo e a vontade!
Agora já não…
Quero somente a liberdade
Da morte em vão.

Que me levem as marés
Até ao longe horizonte
Para poder saltar para o céu,
Deixar de ser prisioneiro a monte
Ou arguido sem réu.

Beijo nos lábios a justiça
Apaixonadamente injusta,
Que morra no mar comigo,
Afogada à minha custa.

E quando no mar eu desaparecer,
Serei mais um a dar à costa
Numa praia qualquer,
Mais um que teve que morrer.

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Morte do Tempo Presente




Muito se queda, se olvida
No evoluir do pensamento
A confusa mente se enreda
Nas teias baralhadas do momento.

A morte do tempo presente
Tudo traz ao futuro brejeiro,
Engorda-lhe a ambição inconsequente
O agora, segundo passageiro.

Vai de minuto, a longa hora
No compasso do relógio barulhento
Envelhecendo a cada aurora
A gente, o povo desatento.

E na encalhada obscura memória
Guardam-se relevadas sensações
Uma e outra velha suja história
Na cabeça, baú de recordações.

Escurece, vai ficando escuro
Com o tempo, a hora a passar
Ergue-se um opaco negro muro
E se esquece, esquece o lembrar.

quarta-feira, setembro 17, 2008

Demência Eclética



Digam adeus os sérios, os sisudos, os austeros
Por cá ficam os loucos, insanos por natureza
Que se vá a lógica e a probabilidade dos zeros
E seja bem-vinda a improbabilidade da incerteza.

Já chega de coerência e dialéctica
Já farta o palavreado e a conformidade
Tenho sede de demência ecléctica
Daquela crua e persistente,
Que existe e resiste e não passa com a idade.

Que morra longe a competência e o empenho
Não mais ver a habilidade racional
Desapareça rápido o que não tenho
Que o que tenho vai mal,
E não se prende ao que quero
E se me escapa por entre um e outro dedal

No varrer de um segundo fico sem ter o que ter
Saio farpeado por falta de meneio,
De destreza em remendar sem doer
Que venha, que raios! Venha o que anseio
Quero uma paixão insana
Uma que me ponha a ferver.

segunda-feira, novembro 12, 2007

Perdição



Quero me perder nesse aroma
De amor perfumado
Que me apela e me toma
E me deixa enamorado.

Quero me perder nesse corpo
E ficar para sempre perdido
Que te encontre apenas a ti
E que o ar que te rodeia
Seja tudo o que tenhas vestido.

Quero me perder nas palavras
Que saem dessa boca divinal
Que sejam todas beijos
Apaixonados sem igual.

Quero perder a noção do tempo
Nas horas que estou contigo
E aquelas em que não estou
Quero que sejam minhas também
Para te ter em todos os momentos
E ser sempre o teu bem,
O teu amor e o teu melhor amigo.

És a minha perdição
O meu pecado mais orgulhoso
Amo-te com vício
E recuso cura ou repouso
Desta minha ébria paixão.