quinta-feira, maio 14, 2009

Morte maré


Que morrer neste mar
Seja o meu infindável destino
E as ondas a rebentar
Me mostrem o caminho
Até ao fim sozinho.

Que não haja gaivotas, nem pedras,
Nem peixes neste mar!
Quero a largura do oceano
E apenas água para me salgar
E me livrar deste mundo profano.

Não quero o tempo e a vontade!
Agora já não…
Quero somente a liberdade
Da morte em vão.

Que me levem as marés
Até ao longe horizonte
Para poder saltar para o céu,
Deixar de ser prisioneiro a monte
Ou arguido sem réu.

Beijo nos lábios a justiça
Apaixonadamente injusta,
Que morra no mar comigo,
Afogada à minha custa.

E quando no mar eu desaparecer,
Serei mais um a dar à costa
Numa praia qualquer,
Mais um que teve que morrer.

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Morte do Tempo Presente




Muito se queda, se olvida
No evoluir do pensamento
A confusa mente se enreda
Nas teias baralhadas do momento.

A morte do tempo presente
Tudo traz ao futuro brejeiro,
Engorda-lhe a ambição inconsequente
O agora, segundo passageiro.

Vai de minuto, a longa hora
No compasso do relógio barulhento
Envelhecendo a cada aurora
A gente, o povo desatento.

E na encalhada obscura memória
Guardam-se relevadas sensações
Uma e outra velha suja história
Na cabeça, baú de recordações.

Escurece, vai ficando escuro
Com o tempo, a hora a passar
Ergue-se um opaco negro muro
E se esquece, esquece o lembrar.