domingo, janeiro 29, 2006

Quebrado















Espelho mal partido ou
Vidro bem quebrado

Sinto-o trespassar minha alma,
Ousando invadir minha presença,
Unindo e quebrando tudo em mim!

Grande é a confusão do ser
Aldrabado, quebrado pelo não querer
Inalterado no viver, no sentir.

Atrevendo-me a existir
Divido-me em viver e ser:
Viver na superfície
Ser no coração.

O espelho partido nada reflecte!
O vidro quebrado nada deixa ver!
A mentira permanece opaca,
A verdade por reflectir.

Oculta-se o segredo
Maior que a própria vida.
Fragmenta-se a existência
Numa tentativa de salvação perdida.

Desdobro-me em preces,
Num desespero de união.
Rogação vã, a minha…
Estou quebrado! Sem solução!

Mal Preenchido













Escuridão, confusão, o vazio…
Preenchem-me!
Como a água enche o mar
E a luz completa o dia.
Além disso nada mais,
Depois disso só o caos.

De olhar perplexo e profundo
Espreito o horizonte infinito,
Ultrapasso essa linha,
Quebro o meu limite!
Olho para aquilo que não existe!

Ou existe mas não está lá…
Ou está mas ninguém vê…
Serei o único a ver o dia
E a não ver a noite?
Ou estarei no entardecer?
Onde a sol beija a sombra…
E não sei se amanhece ou escurece?

O relógio parado no meu braço
Diz-me que o tempo não passa
E que é este meu castigo:
Viver no limbo do meu ser,
Na orla de um existir vazio
Mal preenchido até ao fim!

Atrever-me-ei a ver a luz
Ou a partilhar minha escuridão?
Estará a luz a me cegar
Ou a escuridão a não me deixar ver?

De olhos vendados
Ou demasiado abertos
Não tenho como saber para onde vou…

Os meus sentidos mentem-me!
Dizem-me que não vou!
Que estou mal perdido
Na porta de um labirinto
Sem saída, nem fim,
Sem partida, nem largada,
Só fugida!